quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Caminhada

Durante toda a sua vida reteve a dor para evitar que outros, percebendo seu sofrer, a tomasse para si. Decidido de que seu pesar deveria ser apenas seu, não desejava dividi-lo com ninguém, não pretendia ser um incômodo para os outros. E assim foi caminhando, sorrindo ou não, mas sempre mantendo o ar de calmaria e equilíbrio. Não percebera que seu sofrer contido, seu grito sempre adiado tornara-se um fardo mui pesado. E tendo agora as pernas cansadas, ameaçava fraquejar.
E se tropeçasse?
Tudo aquilo viria ao chão, toda aquela tristeza despencaria e inundaria a tudo e todos à sua volta em proporção bem maior que antes; com força de água represada, arrancaria tudo que estivesse pela frente, devastaria territórios e corações solidários.
Isso não! Não poderia suportar que o seu sofrer causasse o dos outros. Melhor era conviver com sua dor do que com o penar alheio, o qual não pode ser medido nem controlado.
Portanto, continuava a caminhada dia após dia, passo a passo, acrescentando a cada dia mais uma dose de tristeza ao seu fardo, sem deixar que ninguém perceba o conteúdo de sua bolsa; bagagem que vista de fora, não parece pesada nem leve, feia nem bonita, apenas incógnita e às vezes um tanto comum.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Da essência...

Quando, por diversas vezes, me sinto agitada, angustiada, triste, temerosa...há uma coisa que me acalma: olhar para o céu e vê-lo, em tempo aberto, tão azul com suas nuvens brancas espalhadas, suaves, sincronizadas, viajando com rumo certo, mas sem peso ou prazo, sem preocupações. Gosto também de olhar o céu de noite, estrelado, imenso...misterioso e lindo. Se tem lua, então, fica mais perfeito ainda e ao contemplá-lo, beleza infinita de Deus, me sinto invadida por uma esperança e um anelo de ser tomada e levada as alturas; sinto todo aquele céu me abraçar, inundar a minha pele de bem estar e paz.
Tomada por esses pensamentos não posso deixar de crer que a natureza é genuína expressão divina na terra; ela nos acolhe, nos acalma, nos alimenta, ensina, perdoa; nos mostra também o reflexo que nossos atos destrutivos produzem em nossas vidas.
Deus encheu o mundo de elementos que nos ajudassem a ser felizes neste curso, nesta etapa terrena de nossa existência; a música, a natureza, o amor...são meios que nos possibilitam entrar em contato com as virtudes divinas mesmo estando em um mundo cada vez mais perverso e mau. Sabemos que, pelo livre arbítrio, o homem pode escolher e perverter todas essas coisas boas, usando-as para o mal, mas ainda temos a opção diária de fazer o bem e viver em paz com as pessoas, os sentimentos e o planeta. Façamos escolhas certas, não percamos nossa essência divina.

domingo, 8 de abril de 2012

Sobre escrever...

Escrevo para compartilhar alegrias, dores, anseios, ideias...
A experiência ganha novo valor quando é compartilhada.
Não que eu saiba alguma coisa ou tenha alcançado certo grau superior de conhecimento que deva passar para outros, mas tudo que experimento com a vida ganha mais sentido e valor quando o outro acha identificação na minha dor, alegria, ansiedade.
Penso que quando falo/escrevo também me ouço, me conheço.

sábado, 7 de abril de 2012

Enquanto o tempo acelera e pede pressa, muita coisa fica para trás


Quando eu era criança sentia que o tempo corria tão devagar, exceto quando estava me divertindo muito. Mas até nos momentos felizes, nos quais geralmente sentimos o tempo voar, na minha infância ele não passava tão rápido como hoje.

Lembro que, quando cheguei à adolescência, as ansiedades começaram a surgir, ou melhor, a aumentar. Assim, desejava que o tempo, ora voasse pra que eu logo me tornasse o que haveria de ser, ora se arrastasse para que eu jamais perdesse meus amigos, minha família, meu tempo! Como o tempo nunca foi algo que pudesse ser controlado totalmente, ele foi passando, cada vez mais rápido e as minhas ansiedades íam se multiplicando na mesma proporção.

Depois cheguei aos 18 anos, depois aos 19, depois aos 21... e já me diziam adulta. E a sensação de ainda não estar pronta ou não ser alguém com maturidade compatível com a idade que tinha permanecia e permanece até hoje. Vi meus amigos adquirirem coisas: faculdade, trabalho, relacionamentos, tristezas, alegrias, decepções; abrirem mão de outras: sonhos, relacionamentos, comunhão, ministério. Senti que não tinham mais tempo para as nossas conversas e nossos devaneios sobre o futuro e o presente. Fiquei triste, angustiada! Passei a ter medo do tempo. Não queria ser alguém ocupada o tempo todo ou fazendo algo que só me canssasse, nem queria abandonar as prioridades que tinha naquele momento, pois houve um dia em que "a gente chegou a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre, sempre acaba."

Já que o pra sempre sempre acaba, logo chegou minha vez de adquirir as obrigações da vida adulta. Faculdade, trabalho, dever de lutar por uma condição social melhor, ser alguém na vida.Comecei a correr de um lado para outro como fazem milhares de brasileiros todos os dias pela manhã cedinho para pegar a condução; dormir em pé nos trens lotados; chegar muito tarde e cansada em casa a ponto de não conseguir pensar em nada a não ser em dormir ou nas obrigações do dia seguinte.
Guardei meu teclado, vendi.Para o violão não tenho tempo. Para meus amigos..., família..., para Deus...sempre a mesma desculpa: Quase não tenho tempo; estou muito cansada; tenho trabalho da faculdade; marcamos outro dia, outro dia eu leio, outro dia eu oro.
Os dias passam voando, no piloto automático eu trabalho, estudo, falo com pessoas, almoço, janto, telefono. Quando recosto a cabeça no travesseiro, sinto. Me sinto. Saio do automático e percebo e falta que as pessoas me fazem; a falta que sinto de Deus, da minha família, da música.
Bate um desespero, uma angústia; preciso voltar, preciso parar.
A única pessoa que pode me salvar de tudo isso que construí com as próprias mãos sob o alicerce da minha auto-suficiencia é Deus.

Respiro fundo e penso no que Jesus disse:
"Portanto eu lhes digo: Não se preocupem com sua própria vida, quanto ao que comer ou beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante que a comida, e o corpo mais importante que a roupa? Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas?
Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?" 
(Mateus 6:25-27)
A palavra de Deus é o que por diversas vezes me traz de volta, nos traz de volta.
Desacelerar o coração é preciso e Jesus quer nos ensinar isso a cada dia. Não é fácil, mas podemos nos sentar ao seu redor e ouví-lo como eternos aprendizes daquele que foi, é e sempre será "nosso refúgio e fortaleza; socorro bem presente na hora da angústia." (Sl 46:1)


Vanessa Lima Paula



domingo, 29 de janeiro de 2012

Carta para um amigo distante

Um dia acordei com vontade de escrever uma carta para alguém que eu não via há muito tempo. Das pessoas de que me lembrei, nenhuma me trazia aquela saudosa inspiração que eu desejava. Queria escrever algo que saísse do coração, que trouxesse lágrimas aos olhos, como quando falamos de alguém que amamos muito e que se foi.


De repente comecei a me lembrar de você, amigo.
Quantas saudades eu sinto de você. Nada substitui a nossa convivência!
Agora te vejo tão longe... mesmo sabendo que você mora aqui na mesma cidade que eu, à 20 ou 30 minutos de distância da minha casa.
É verdade que muita coisa mudou. Eu, você, nossas prioridades..., nossa amizade!
Lamento que não confie mais em mim o suficiente pra ser sincero quando te pergunto:
"está tudo bem?" 


Fico triste por saber que você não está bem, como sempre diz. Queria estar por perto...
Talvez você não acredite,mas...
Meu coração dói ao saber de você por outros; quando falam de você com maldade ou crítica ainda me enfureço e no íntimo compro sua briga. Me compadeço de suas tristezas e quando te vejo seguindo por caminhos errados temo que não consiga retomar a direção certa e choro por não poder chegar mais perto pra te trazer de volta.


Como oferecer ajuda? Você nunca diz que precisa.
Já perdi a conta de quantas vezes estive irada com você por suas atitudes. Sempre estive calada sobre isso, até mesmo para não ser dura nas palavras e machucá-lo.
Sei que errei. Isso é certo! E apesar de minhas tentativas de consertar...você se foi.
Me perdoe se te afastei de mim.


Esta, não é uma carta de reconciliação. Sei que não estamos brigados; nos falamos normalmente. A superficialidade me incomoda, mas vou silenciar meu coração sobre isso.
Só escrevi para deixar registrado o quanto sinto sua falta. 
Amo você com siceridade e pretendo conservar meu coração assim independente do que você faça.
Espero que esteja bem, de verdade, e que seja feliz!




Um abraço,



Sua amiga.





quarta-feira, 6 de abril de 2011

Largo em sentir, em respirar sucinto
Peno, e calo tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento
Mostro, que o não padeço, e sei, que o sinto.

O mal, que fora encubro, ou que desminto,

Dentro no coração é, que o sustento,
Com que para penar é sentimento,
Para não se entender é labirinto.

Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;

Da tempestade é o estrondo efeito:
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.

Mas oh do meu segredo alto conceito!

Pois não me chegam a vir à boca os tiros
Dos combates, que vão dentro no peito.

(Gregório de Matos)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sobre o tempo...

Um dia acordei e era setembro! 
Agosto tinha passado como um vento 
e aquela folhinha do calendário já não servia mais.

Aquele dia passou; chegou a noite,
depois outro dia, depois outro...e outro...
Fui me dando conta de que o tempo agora era outro.
Tinha uma face distinta.
Tudo agora era setembro!

O sol não mais brilhava como antes;
seu calor era mais intenso, seu amarelo mais setembro.
Nada era igual, tudo era oposto; nada mais era agosto.

Os gostos e aromas, as cores e as dores, os amores e temores,
todos vinham à mim numa brisa suave, num calor mais intenso.
Tudo agora era setembro!

Sem me dar conta, veio um vento forte que varreu o setembro pra lá
e arrancou mais uma folha do calendário
A porta se abriu; outrubro chegou!
Um tanto mais quente, um pouco mais úmido.

Veio confirmar e aprofundar, clarear e aperfeiçoar
as dores e cores, temores e amores
de uma semente setembro 
que florescia outubro.


Vanessa Lima